sexta-feira, 17 de outubro de 2008

ÀS VEZES ELA VEM ME VISITAR

da lembrança primeira

naquele tempo
a vida da gente era uma ruazinha de barro
esperando a chegada do asfalto
uma casa pintada de azul
rodeada de árvores
e os dias de toda a família
mais pareciam uma canção de milton nascimento
a combinar com montanha, cachoeira e feriado

da mãe

coisa pra lá de bonita
disse a mãe da gente
enquanto fritava bolinhos de chuva
pra merenda da tarde:

“foi num tempo em que a vida
só ventava incerteza
que matei minha sede
bem na fome de teu pai”


da bala doce


vez em quando
a vó enchia as mãos de bala
num gesto de vó
em deixar o neto contente

confesso que mais doce que todas as balas
só o jeito dela dizer
é de coração
é de coração

do segredo mais antigo


ela sempre foi o princípio do ano
ela sempre foi sem pedra na mão
ela sempre foi a bicicleta enfeitada
ela sempre foi o de mais bonito que eu via

ela sempre foi a música que eu assobiava
ela sempre foi o vento que não me punha medo
ela sempre foi de sossegar minha correria
ela sempre foi o nome bem dentro do coração de giz na calçada

ela sempre foi minha alegriazinha